A nova casa da camisa jeans
- Fabiana Seres
- 11 de ago. de 2017
- 2 min de leitura
E daí eu me pego não conseguindo lidar tão bem assim com as mudanças. Logo eu, que me dizia tão flexível.
Para mudar uma simples roupa de um armário para outro parecia que eu estava querendo encaixar um mundo inteiro em outro.

Uma camisa jeans, ainda cheirando a sabão em pó da minha casa, sendo pendurado em um armário que não era o da minha casa me fez pensar em quais mudanças estavam a caminho.
Eu havia resistido brava e amargamente, duramente, pensando por muito tempo sobre qual ou quais mudanças aceitar.
Tudo havia mudado. Nada mais parecia o mesmo.
O caminho até a estação de metrô já não tinha mais a carona dele, no carro dele. O motorista mudava todo santo dia quando eu solicitava um carro pelo aplicativo.
Comprar os cereais que ele gostava sempre fazia parte da lista de compras, mas as idas ao supermercado estavam bem diferentes também. Na verdade, elas mal aconteciam... eu mal cozinhava, muitas vezes nem me alimentava.
Cozinhar sempre foi uma das minhas grandes paixões e demonstrações de amor: eu adorava quando ele elogiava as minhas criações, me enchia de orgulho. Cozinhar me distraía e me permitia realizar algo que realmente amava... e nem isso mais fazia parte das minhas tarefas diárias, assim como lavar louça ou retirar o lixo.
Sempre que passeava e avistava uma loja de itens para casa eu lembrava do que poderia comprar para a minha casinha, afinal sempre faltava uma fronha, um tapete ou uma vela nova.
As ligações matinais ou na hora do almoço não mais aconteciam e as mensagens no celular xiiiiii, nem te conto, meu telefone mal tocava.
Os planejamentos dos finais de semana, a tentativa de conciliar as nossas agendas com os diversos compromissos, também era mais uma tarefa não mais executada.
O café da manhã de domingo que era feito com muito amor e carinho deu espaço a um mísero e solitário chá com biscoito maisena.
Sempre gostei de dizer que sou muito flexível e de certa forma consigo reagir bem às mudanças. Mas acredito que há certas mudanças que dificilmente me acostumarei e dificilmente aceitarei.
Mudar faz parte e seguir em frente é o único caminho, não há como dar seta e retornar, isso seria uma manobra de alto risco - além de ser impossível. O que foi já foi, já passou, ficou no retrovisor.
Aprecie novos caminhos, siga novos e diferentes rumos e acostume-se à novas paisagens, elas podem lhe surpreender.
Uma coisa é certa e posso afirmar, o amor de família e amigos - aqueles “amigos” - nunca irão mudar, eles estarão contigo nessa caminhada lhe guiando quando necessário e lhe mostrando diversas possibilidades de rotas. A caminhada fica mais leve, mais fácil e muito mais prazeirosa. Inclusive eles poderão escolher uma trilha sonora para acompanhar e tornar inesquecível a nova jornada e, sim, será incrível.
A camisa jeans? Sim, eu pendurei naquele armário desconhecido e por incrível que pareça fiz um mundo caber em outro e posso dizer que a mudança lhe caiu um tanto quanto bem.
Conta pra mim a sua mudança mais dolorida?
Um beijo.

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