O cheiro do amargo
- Rita Santander
- 13 de jun. de 2018
- 2 min de leitura
Sabe ranço? Então. É isso que estou sentindo pelo meu vizinho neste exato momento. O bonito saiu de casa todo perfumado e espalhou por todo o corredor e parte do meu apartamento o perfume novo.
O fato em si não seria nenhum problema, não fosse o perfume, o mesmo que me traz centenas de recordações de um rolo antigo, mas que vive entalado na garganta. Esse, que antes foi o cheirinho que eu apreciava no cangote de alguém que amei, agora me cheira a mágoa.

Lembro de quantas vezes falei daquele perfume e do quanto gostava dele. Como me aninhei no colo dele antes de dormir sentindo aquele cheiro e quanto achava que aquilo fazia perte do pseudo relacionamento que tínhamos. E digo "pseudo" porque enquanto eu estava lá envolvida achando que ele ficaria, ele mesmo já sabia da não intenção de ficar. Ao sentir o perfume do vizinho hoje, e as memórias boas retornarem, aquele foi o perfume da mágoa. As lembranças, de boas e gostosas passaram a amargas. Hoje, esse foi o cheiro do egoísmo. Eu me orgulho em dizer por aí que, após nove anos de separação, não sinto nada pelo meu ex-marido. Nada mesmo. Nada me traz lembrança dele, nada remete ao relacionamento e sou totalmente indiferente aos anos que passamos juntos. Embora ele também tenha me magoado, esse foi um sentimento que se instalou por um tempo, e foi embora. Nem mesmo as coisas qua na ocasião importavam, eu me lembro com clareza. (Tive essa confirmação quando, no vídeo de dia dos namorados pro Canal, a Tabata teve que me lembrar um presente significativo que eu tinha ganhado). Já sobre o moço que deixou um rastro de perfume na minha memória olfativa, não tenho como dizer o mesmo: tudo que se refere a ele ainda vem amargo. Anos depois, a tristeza vem quando lembro dessa história. Não por ele, por nutrir sentimentos ou coisa que o valha, mas pela forma como ele ficou na minha vida, mesmo sem a intenção de permanecer e me deixou com a facilidade dos desapegados e egoístas, desinteressado por aquilo que eu sentia. Dessa história ficou a lição de não me demorar onde não haja espaço para o duradouro. Não buscar porto seguro, onde só há areia solta. O baile segue e dificilmente cutuco essa mágoa. Lambi minhas feridas e bora lá, que é pra frente que se anda. Mas o cheiro, bom... esse agora é da mágoa e não mais do tesão, como costumava ser!!! Só posso dizer: azar o dele!!!

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