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O babaca do avião

  • Rita Santander
  • 16 de ago. de 2017
  • 4 min de leitura

Depois que me divorciei, demorei bastante tempo para deixar outra pessoa entrar na minha vida. Passei um tempo de luto pela separação, vivi a tristeza e, quando segui meu baile, decidi ter um tempo só meu, dedicado à mim e minha companhia. Foi um período ótimo de redescobertas - as quais conto em outro post -, e foi essencial para eu avaliar prioridades, as quais começavam em mim.

Após esse tempo, que durou cerca de um ano, eu achei que estava pronta para me envolver novamente e voltei, oficialmente para a "pista", me cadastrando no Tinder, onde conheci algumas pessoas, entre elas um rapaz poucos anos mais velho que eu, que se dizia piloto de aviões de pequeno porte, informação que posteriormente tive a certeza que era apenas mais uma das mil mentiras que ouvi.

A profissão, criada como um status para surtir algum efeito sobre mim, não me chamou atenção, porque não acho que as pessoas sejam definidas pelos seus empregos. Porém, toda a atenção constante e as longas e divertidas conversas tiveram o efeito desejado e passamos a sair com uma certa frequência.

O cara era o tipo que dizia as coisas certas, sabe? Após um tempão solteira, cheia de carência e uma necessidade de aproximação (problemas que, descobri mais tarde, podem ser resolvidos com uma boa autoestima), ouvir de alguém o quanto você é linda e interessante tem um efeito realmente nocivo sobre a gente, quando munido de más intenções. E quando digo más, é no sentido de maldade mesmo. Afinal, enganar alguém não é, exatamente, algo legal de se fazer.

Era a primeira vez, depois de muito, muito tempo, que eu realmente gostava de alguém a ponto de querer estar ao lado da pessoa. Não vou discutir aqui quais razões nos levam a gostar de alguém, mas, naquele momento, os encantos do pseudo-piloto que não voava por um problema no joelho, vieram sobre mim certeiros e me apaixonei por alguém, que não era exatamente aquele que estava sendo exposto a mim, mas por uma versão criada para esconder alguém que eu nem sei, de verdade, quem é. Isso porque, tudo o que ele me dizia ou contava, era mentira.

Eu não sou dessas mulheres paranoicas com mania de perseguição e que acham que qualquer palavra é motivo de desconfiança. Mas eu ouvia cada história, que não dava mesmo para acreditar. No final, descobri que o pedido para namorar com ele, de joelhos, não havia sido apenas para mim, mas para uma outra pessoa ao mesmo tempo, a qual ele também enrolava, talvez com uma outra vida de mentirinha.

"Estarei pilotando para um deputado X, voando para o Mato Grosso e terei que morar lá por um tempo. Talvez a gente não consiga se falar porque estou sempre no ar. Ganharei um salário altíssimo para isso, o qual eu preciso agora". Mas você nem é piloto, meu filho! Vai voar no quê? No carrossel?

E eu, envolvida e confusa e me sentindo a mais otária das mortais, fiquei lá, com cara de idiota olhando aquela pessoa que mentia para mim, sem entender o motivo pelo qual ele queria ser meu namorado, ir ao cinema e andar de mãos dadas no shopping, mas precisava inventar a morte de uma das irmãs para ficar longe por alguns dias.

Ah, não contei? Em uma das ocasiões uma das muitas irmãs teve um câncer imaginário e a mesma morreu de câncer de unicórnio. Que tipo de pessoa inventa a morte de alguém para se safar de uma mentira? Sabe como sei que era mentira? Eu liguei para a tal irmã e ela mesma, após sua morte fictícia, atendeu ao telefone. Antes disso, até, comecei a ler sobre mentirosos compulsivos e me dei conta que estava, na verdade, envolvida com alguém muito perto da psicopatia.

Minhas amigas chegaram a me olhar com pena. Com expressões de "porque você deixa ele fazer isso com você?" Eu não sabia porque, mas eu deixava. Era um misto de raiva e impotência, e uma vontade louca de fazê-lo me dizer a verdade, quando, um dia, assumi para mim mesma que a verdade não viria. E foi a minha vez de tomar a decisão. Me distanciei daquela pessoa tóxica, triste e inconformada por sofrer como uma adolescente inexperiente, por uma pessoa que desde o início mostrou sua falta de caráter.

Embora tenha me referido a esse senhor, no título, como babaca, durante aqueles meses em que durou o relacionamento, a babaca era eu, que mesmo sabendo que estava sendo enganada, fiquei. E cobrei palavras de verdade que não vieram e não virão jamais.

E porque eu fiquei? Porque, na verdade, eu não estava preparada coisa nenhuma para um novo relacionamento, para deixar outra pessoa entrar na minha vida. Vejam só... um ano depois, eu ainda estava tão quebrada e tão desconectada de mim mesma, que eu não conseguia enxergar o que era bom ou ruim. E por isso, a primeira pessoa que me deu atenção após uma fase solitária (fase esta que já vinha desde lá do casamento), foi a escolhida para eu entregar meus sentimentos.

O bom é que o ser humano tem essa imensa capacidade de se reconstruir, né? E foi isso que eu fiz. Olhei para dentro de mim e busquei os motivos pelos quais eu estava me martirizando em um relacionamento sem sentido e sem verdade, e encontrei o amor próprio, e com ele veio também a motivação para gostar de mim e entender que, não posso abrir mão das coisas que são essenciais para mim.

Nesse caso, o essencial que faltava era a verdade, porém a partir daí passei a deixar para trás as pessoas que tentam entrar na minha vida, que não são munidas de valores e características que eu considero importantes. Nessa lista, abandonei um rapaz que "não era muito beijoqueiro", segundo ele mesmo. "Desculpe, amor, beijo na boca, pra mim, é essencial. Fica pra próxima".

Relacionamento, é aprender a ceder. Porém, fazer isso a ponto de perdermos nossa própria identidade é abrir mão da nossa essência, o que pode nos transformar em pessoas as quais nós mesmas não queremos ser.

Por isso, o exercício é elencarmos aquilo que realmente importa para nós. A partir dessa lista, onde colocamos nossos desejos em primeiro lugar, aprendemos a não aceitar menos do que aquilo que nos faz feliz. E não importa que os outros julguem isso ou aquilo como irrelevante. Quem define suas prioridades é você. E, com isso em mente, você nunca mais vai aceitar menos do que merece e deseja!

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