O umbiguinho e o mundo ao seu redor
- Rita Santander
- 9 de ago. de 2017
- 3 min de leitura

Eu sou velha, né, gente! Quando comecei a paquerar não existia rede social, whatsapp, nudes e nem nada do gênero. Era você, o copo de cerveja e a multidão ao redor. Ou, antes de termos idade para o álcool, só você e os outros. Veja só, quanto calor humano!
Isso abria espaço para uma interação que tem se tornado cada vez mais rara. "Me passa seu whatsapp", diz o rapaz. E 40 minutos depois a mocinha recebe um convite para sair, com a telinha do celular entre ambos. Isso quando não recebe antes pedido de mil fotos e convites para curtir as redes sociais onde o gatão aparece malhando.
Saudosismos à parte, venho notando que a falta de interação humana gera pessoas cada vez mais preocupadas consigo mesmas e muito pouco com o outro. É claro que a ideia é que cada um cuide da própria vida, mas saber um pouco da vida do outro, para trazer como lição ou referência para a sua própria existência, é super válido.
Eu, que gosto de gente, de histórias e particularidades, me vejo cada dia mais perdida no meio de tanta efemeridade e distanciamento das pessoas.
O sucesso do Stories do Instagram, que dura só 24 horas e não se aprofunda em nada é prova disso. Outro dia estava almoçando com duas amigas e, antes do cafezinho as três já havíamos fotografado e publicado nossas lindas sobremesas, mas nenhuma foto que representasse aquele encontro.
Pensar que as coisas, trabalhos, roupas, sapatos e tudo aquilo que é inanimado são mais interessantes que as próprias relações, me traz uma sensação triste de solidão.
Conversando com um rapaz que conheci online, ele me contou de todas suas conquistas: como sua carreira ia bem, sua última viagem foi incrível, que ele joga baseball aos fins de semana, sai com os filhos de 3 e 5 anos (eles adoram atividades aquáticas, que fofos) e por mais uns 40 minutos conversamos sobre tudo, absolutamente TUDO que dizia respeito dele.
Em nenhum momento ele perguntou o que eu gostava de fazer, minha profissão ou qualquer coisa que eu pudesse responder sobre mim.
Além do diálogo pautado no "eu", toda tentativa de dizer algo sobre mim, como "ah, também adoro cinema. Assistiu Dunkirk?" era sumariamente ignorada ou respondida com monossílabos, que rapidamente davam lugar às frases inteiras e elaboradas sobre seus feitos. Foram 40 minutos de uma pseudo-conversa, solitária. Não dava nem mais para considerar entrevista, porque eu até parei de perguntar.
Esse não foi um caso isolado. Inúmeras são as vezes que conheço pessoas dispostas a sair para uma cerveja, mas pouco dispostas a conhecerem, de fato, com quem estão dividindo a mesa. É parte da natureza humana estar em grupos. Mas os grupos deveriam favorecer mais as relações que a imagem delas colocados em uma rede social.
Difícil pensar que, ao passo que estamos, a socialização deve ser ainda mais superficial para dar lugar às relações de Facebook, através de telinhas de celulares e fotos felizes de pessoas que não conhecemos.
Em um mundo com menos "nós" e muitos "eus", o ponto positivo é que, quando não há relacionamentos, não há separações, nem a dor que isso pode causar. Contudo, eu ainda prefiro as consequências do término que a solidão e superficialidade. Porque eu... bom... Eu sou da multidão!
E você? Optou pelo isolamento ou por deixar as pessoas entrarem?

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