O lenço que não usei
- Fabiana Seres
- 1 de set. de 2017
- 2 min de leitura
Posso dizer que o choro sempre esteve presente em minha vida. Sou daquelas que se emocionam fácil...e alguns dizem que sou um tanto quanto dramática rs. Fato é que muitos e bons lenços já foram usados nestes intensos momentos.
Mas nos últimos meses a carona mais frequente no meu carro, e meu companheiro de travesseiro, tem sido ele.

[Dizem que chorar no banho é ótimo para aliviar toda a angústia e sofrimento que sai em forma de lágrima e some pelo ralo do banheiro. A sensação de que tudo some, ralo abaixo com aquela água toda, é renovadora e dá um certo alívio.]
Mas para mim o choro vem em diversos lugares, não só no chuveiro. Por isso decidi comprar várias caixas de lenços (nunca comprei tantas na minha vida) e espalhá-las por todos os lugares, seja no carro, no trabalho, no quarto. Comprei de todos os temas e texturas, com fragrância e sem, coloridos e brancos. Ter muitos espalhados por aí me trouxe uma sensação de total conforto, pois eu sabia que a qualquer momento poderia precisar de um.
Certa vez um terapeuta corporal, que me atendeu em uma das sessões que busquei apoio, ficou impressionado com a minha facilidade em chorar só de pensar no tema que me angustiava. Eu cheguei a dizer a ele que engoliria o choro e tentaria me conter para que pudéssemos iniciar a sessão, mas fui surpreendida por uma fala em tom firme que saiu da boca dele junto com os seus olhos arregalados a fim de me enfrentar: “Você NUNCA deve engolir um choro!”.
E graças a Deus ele também era precavido e tinha uma caixa linda de lenços na mesa ao lado. Que alívio que eu senti quando vi aquela caixa ali, ao meu ladinho. Significava que eu podia sim chorar. E assim segui a sessão, usando muitos dos lenços dele.
Nesse processo eu entendi que tenho uma memória muito forte que associa o choro ao momento intenso e somente de tocar no assunto já faz com que lágrimas rolem por aí. Muitas vezes, esse choro nem necessário é, mas a tal da memória nunca falha.
Dias desses, recebi uma ligação que mexeu muito comigo. Pensei muito antes de atender, pois a minha memória me dizia que eu iria chorar horrores. Pelo menos eu estava segura: estava no meu carro e lá tem uma caixa bem das bonitas de lenços de papel.
Tomei coragem então e atendi o telefone...a conversa desenrolou e eu com meu lencinho na mão só esperando o momento de usá-lo e, para a minha surpresa, eu não o usei.
Podem me chamar de louca, mas guardo ele como troféu. Me lembra superação de algo que me tirava o fôlego e me arrancava lágrimas. E como é bom perceber que aos poucos os monstros que nos afligiam já não estão mais embaixo das nossas camas não é mesmo?

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