Tem que doer...
- Tabata Pitol
- 15 de set. de 2017
- 2 min de leitura
Tem que doer como nunca para não doer nunca mais. Tem que dor como nunca essa saudade que eu sinto, para que não doa nunca mais.

Tem que doer como nunca a falta sempre presente, para que não doa nunca mais. Tem que doer como nunca os meus sonhos que se desfizeram como um sopro, para que não doa nunca mais. Espero aqui sentada, escondida e protegida esse nunca mais chegar para que leve consigo essa aflição em não ter, em não poder tocar e nem mais ao menos saber. Dói como nunca não ter mais quem penteie o meu cabelo ou faça aquela trança que nem eu mesmo sabia fazer. Dói como nunca não ter mais aquele cabelo para acariciar até que eu pegasse no sono. Dói como nunca saber que por mais que eu deite sozinha para dormir, quando eu acordar eu continuarei sozinha. Dói como nunca saber que a minha família diminuiu. Dói como nunca saber que não participarei mais daquele amigo secreto de Natal. Dói como nunca saber que o rumo mudou, que tudo alterou e nada mais é do mesmo. Dói como nunca saber que uma década se reduziu a meia dúzia de palavras mal trocadas e desentendidas. Dó como nunca não ter mais a sua companhia. Dói como nunca não sermos mais nós. Dói como nunca saber que dia 28 não será mais aquele dia 28 que eu romantizei, ele será apenas um comum e mais um dia 28. Dói como nunca ver tudo mofar. Dói demais saber que meu telefone não irá mais tocar e que o 12 não é mais o nosso andar. Sim, tem que doer como nunca para não doer nunca mais. Sigo aqui esperando ansiosamente esse tal de "nunca mais chegar".

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