Meu maior medo
- Tabata Pitol
- 16 de out. de 2017
- 3 min de leitura
- Você vive dizendo que é medrosa. Qual a coisa que você tem mais medo na sua vida?
- Meu maior medo era perder meu marido, nossa família, meu núcleo familiar
- E isso não aconteceu?
- Sim!
- E você não está aí, bem?
- Estou.
Novamente este é um diálogo que aconteceu entre eu e Carol, minha terapeuta.

Eu tinha pavor de perder meu marido, a pessoa que mais amei na vida. Amava em uma proporção até injusta. Amava mais que aos meus amigos, amava mais que ao resto da família. Muitas vezes achei que se tivesse um filho não seria capaz de amar a criança como eu o amava. Fazia por ele tudo o que eu podia, e às vezes o que não podia também. Me coloquei em risco várias vezes para poder deixar ele mais feliz, mais tranquilo, confortável. Valia a pena cada esforço. Um sorriso, um obrigada, ou um "a comida tá boa", que saia da sua boca quase sempre depois de eu perguntar: a comida tá boa? me faziam feliz. Esse foi o meu jeito (torto, hoje eu sei) de amar. E por 13 anos assim o fiz. Valia qualquer esforço para manter nossa família feliz.
Até que um dia eu o perdi. Um dia tudo desmoronou. Nada disso foi suficiente para fazer ele ter certeza de que ali era o lugar onde deveria estar. De que aquela era a história que ele deveria estar vivendo. Parece que só eu tinha essa certeza.
De um dia para o outro tudo a que eu dava mais valor não existia mais. Tudo que priorizei, tudo pelo que lutei, tudo pelo que me anulei não estava mais lá. Tinha acabado da maneira mais torpe, feia e dolorosa possível. Eu não merecia aquilo (continuo achando que não), mas era a realidade e eu tinha que encarar.
E encarei. Mas não sem antes o chão se abrir e eu cair até o fundo do poço. Talvez aquela frasezinha brega de que lá em baixo tem uma mola, seja verdade. Por que depois que cheguei ao fundo, comecei a subir. E ao subir me dei conta que havia enfrentado meu maior medo e voltado a respirar. Ele tinha se materializado, se tornado real. Me olhado nos olhos. Me jogado para baixo. Mas não tinha me derrotado, me aniquilado, me matado.
E vou te dizer um troço, quando você se dá conta disso, é delicioso! A partir daí, o céu é o limite.
Foi uma sensação de liberdade que nunca havia sentido. Eu nunca havia me permitido sentir.
Sempre preferi me manter segura.
Evitava sair a noite, me colocar em situações de risco. Nada de paraquedas, mergulhos ou compras parceladas. Aos 17 anos meu pai me sugeriu comprar um Celta, em um plano especial da GM, onde eu pagaria R$ 300 por mês. “Não mesmo pai. Vai que eu perco o emprego”. Aos 37 anos nunca perdi, e nunca parcelei um carro.
Só enfrentei medos quando era para fazer meu marido feliz. Um apartamento novo, um carro caro…nunca encarei por mim, apenas por mim (ok, ok, eu ficava feliz com a felicidade dele, mas vc entendeu).
Então, que sensação deliciosa essa da liberdade. Respirar fundo e ter a certeza de que, aconteça o que acontecer, eu vou sobreviver (ok, não sobreviveria a um tiro na cabeça, mas vc me entendeu de novo).
Me livrei de todos os meus medos? Não. Mas sobrevivi muito bem ao maior deles. E isso muda a gente de muitas maneiras. Muitas. Hoje olho para eles de forma bem diferente. Eles me assustam, mas não me apavoram. Não me limitam, não me impedem.
Pelo contrário, me impulsionam. Acabei de comprar uma passagem para longe. Nada programado, pensado, planejado. Apenas comprei e vou. Ainda não tenho grana suficiente, hotel ou transporte terrestre. Mas tenho a certeza de que meu medo com relação a tudo isso, não vai me matar. E vai ser incrível.
Tenho certeza que o carro conversível que vou alugar será o melhor lugar para sentir de vez essa tal liberdade que nenhum medo mais vai me impedir de sentir.

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