Hoje meu egoísmo é sonhar...

Tava aqui lendo essas listas de arrependimentos que você não vai querer ter antes de morrer e, em meio há varias frases que engoli a seco, me deparei com uma que me deu um nó maior no estômago "Ter trabalhado a vida toda para realizar o sonho de outra pessoa, e ter deixado os seus de lado.”

Cara que soco no baço. Já disse aqui, em algum texto, que quando me separei e minha terapeuta me perguntou quais eram os meus sonhos eu não soube responder. Lembro de no primeiro curso que fiz no IBC ter feito um teste que falava de sonhos também sem muito avanço. Eu não os tinha. Meu sonho era realizar os sonhos do meu marido.

E óbvio que aqui não estou culpando ele de forma alguma. Sei bem que fui eu quem fez disso uma missão de vida. Talvez porque fosse mais fácil. Talvez porque já que ele tinha sonhos tão definidos, era mais fácil ajudá-lo a alcançar os deles do que criar os meus. Ele queria ganhar um prêmio na carreira. Ele queria trabalhar em uma determinada empresa. Ele queria ter um carrão. Ele queria ter um bulldog. Todos esses sonhos nós realizamos. Digo nós porque, apesar de ele ser muito talentoso, tenho total consciência - e não vou fingir aqui uma falsa modéstia - de que sem mim ele não teria chegado há nenhum deles, pelo menos não tão rápido quanto aconteceu.

Eu estava sempre ali. Ajudando, apoiando, opinando, segurando a barra, incentivando, fazendo ele ir além. E talvez, quando ele viu tudo ali realizado, viu também que não precisava mais de mim. Talvez os sonhos agora passassem por uma área que não me incluísse mais. E eu fiquei ali, sem sonhos, enquanto ele resolveu seguir a vida.

No começo fiquei devastada. Como ele tinha coragem de abandonar, e fazer o que fez, com alguém que só fez se dedicar a ele? Só fez ajudá-lo a conseguir tudo que queria, mesmo quando não era o que eu queria? Nunca quis um carrão. Também nunca quis um marido trabalhando de madrugada, em horários aleatórios, impedindo que a gente se encontrasse e mantivesse a nossa rotininha que eu amava. Eu certamente não queria. Mas ele queria. Então eu o ajudei.

Percebi também que durante todo esse tempo eu sempre fiz questão de exaltá-lo, bradar suas conquistas, exibir seus feitos…ou seja, encher ele de orgulho, confiança e amor-próprio.

E quando foi que eu fiz isso por mim? Quando foi que eu exaltei, comemorei, exibi minhas conquistas? Sempre fui low profile, sabe? Sempre achei ridículo quem precisa se exibir para se firmar. E continuo achando. Mas deveria ter tido mas orgulho de mim mesma. Tenho 37 anos e já fiz tanta coisa legal, conquistei tanto. Mesmo sem sonhar com as coisas. Elas foram acontecendo, eu fui agarrando as oportunidades e fiz umas coisas bonitinhas sabe? Eu não deveria me orgulhar de mim?

Nesses seis meses de separação muita coisa mudou, graças a Deus. Com a ajuda de profissionais, amigos e de mim mesma, consegui me olha e ver que eu também tenho vontades e sonhos. Alguns eu já realizei nesse curto espaço de tempo, outros vou realizar em breve e alguns vão demorar mais. Tenho, a cada dia, repensado tudo que aconteceu comigo e em alguns momentos vejo que tanto sofrimento me trouxe muita coisa boa.

Não sei se me perdi nesse texto, mas quero apenas dizer para que você não deixe de pensar nos seus sonhos. Não se julgue egoísta por pensar em você (confesso que sempre achei bonita minha capacidade de me dedicar ao outro, e no fundo esse é um egocentrismo do caralho né? Era eu, fazendo algo que não me ajudava, apenas para que eu mesma me achasse especial. WTF?).

Hoje realizo sonhos. Hoje realizo vontades. Nem sempre os outros entendem. Já vi amigos chateados porque ao invés de fazer o que eles queriam que eu fizesse eu resolvi fazer o que eu queria fazer. Até agora não me arrependi. E agora tenho uma certeza: no meu leito de morte, ter deixado de realizar meus sonhos e desejos não será um arrependimento.

Pensa nisso tá?