Enfim, sós???
- Tabata Pitol
- 18 de dez. de 2017
- 3 min de leitura
“Valeu mesmo a pena jogar uma relação gostosa fora porque ele transou com outra pessoa?”, me perguntou Regina Navarro Lins, a psicanalista que você deve conhecer do programa Amor & Sexo na Globo, da Globo News, ou de suas ideias libertárias que pipocam na internet.
Não, eu não estava em uma consulta. Era uma entrevista de trabalho, mas minha história sempre surge, e em alguns momentos acho até divertido ver Mônica Martelli, Renata Longaray, Juju Salimeni, Ariana Martins, me dando conselhos e perguntando se estou melhor.

Imagem do livro Suruba para Colorir
"Acho que não foi o sexo em si. Foi ele não ter me contado”, respondi. “E desde quando casamento é confessionário? Pare de ser boba”, me disse ela. Engoli e entendi que não adiantava argumentar. Aquela inteligentíssima e estudada mulher de 69 anos estava ali para dar vários tapas na cara dessa mocinha de 37 que se julga liberal e moderninha.
Conversamos por um grande tempo sobre amor, casamento, amor romântico, novas formas de amar e a exigência da exclusividade no casamento.
Ela me conta que se separar é realmente doído (olha aí, algo que concordamos de cara) mas diz que sofremos porque carregamos conosco uma série de moralismo que não nos pertence. São valores culturais, ancestrais, e aprendidos em uma gigante tela de cinema. Também não tive como discordar. Eu sempre soube que a culpa era mesmo de Hollywood.
Mas voltemos ao meu caso, que esse você não verá no vídeo que já já estará no ar. Ela me perguntou se eu gostava dele e se nossa relação era boa. Respondi que sim as duas questões. Ela então me jogou uma reflexão que escreverei em forma de metáfora, porque para mim fez mais sentido assim:
- Vamos supor que você todo dia toma sorvete, porque isso te deixa alegre, te faz bem. Você precisa contar isso ao seu marido? Não né? Aí vamos supor que hoje você tomou o de baunilha, amanhã toma de chocolate, depois de flocos. E variar te faz bem…você chega em casa mais feliz, alegre e disposta. Ele precisa saber disso? Isso realmente afeta o que vocês tem juntos? A parceria, a alegria, o companheirismo, os planos conjuntos?
Velha filha da puta... eu adoro sorvete ;/ (e faz muito sentido...)
O xingamento na frase de cima, claro é uma brincadeira de quem levou alguns tapas na cara. Eu amei essa mulher tão livre, leve, solta e feliz…como eu gostaria de ser, mas não sou. Perguntei então para ela como não me importar com o sabor de sorvete que está deixando o marido feliz. Ela disse: você querer se livrar do moralismo e ter coragem.
Confesso que fiquei pensando nisso…me surpreende pessoas que conseguem viver suas próprias verdades, independente dos julgamentos do outro. Talvez não seja nem isso, talvez o que eu admire é a pessoa ter a coragem de, de fato, fazer só o que é coerente com seus desejos, vontades e crenças. Ela certamente não cresceu com uma família que achava que o amor livre era a coisa mais natural do mundo, mas para ela é, e por isso ela vive sua verdade.
Confesso também que concordo com ela. Seria lindo um relacionamento onde as pessoas pudessem se divertir transando com quem quisessem, sem jogar mais essa obrigatoriedade nas costas do outro: vc tem que amar só a mim, tirar o lixo, preparar surpresas, planejar viagens, ir comigo ao shopping, trabalhar, me fazer ter admiração e orgulho de você, passear com os dogs, sorrir para os meus parentes e ainda me dar orgasmos incríveis.
Mas não acho que eu conseguiria ter um desses nessa vida, principalmente porque não sei se quero isso. Sim, acho coerente essa não exigência da exclusividade, afinal não dá para achar que por 50 anos você vai ter tesão sempre pela mesma pessoa, olhando sempre para ela, brigando com ela, convivendo com ela todos os dias…sei disso muito bem. Mas talvez eu ainda precise que Hollywood comece a fazer uns filmes que comecem no Enfim Sós para admitir que o mocinho pode sair com mais de uma mocinha, e vice-versa!

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