Contato zero: até para quem tem filhos
- Tabata Pitol
- 4 de dez. de 2017
- 5 min de leitura
Se alguém, qualquer pessoa, uma entidade divina me dissesse, em dezembro do ano que passado, que em dezembro desse ano eu não teria mais contato com aquele que continuo chamando de grande amor da minha eu provavelmente teria caído da cadeira de tanto rir.
Mas sim, nesse mês de dezembro ele não receberá meus carinhos, meus presentes, não teremos os dias gostosos e preguiçosos das férias coletivas e nem o primeiro beijo na noite de ano novo. Não posso dizer que isso não me entristece, mas diante te tudo que aconteceu esse ano, das escolhas que não foram minhas, das escolhas que foram minhas, o contato zero foi a melhor atitude que tomei.

Na verdade logo que o papo da separação surgiu eu deixei claro que não queria mais falar com ele. Mas ele insistia em falar comigo e saber de mim. Como tudo ainda parecia muito inconclusivo eu permitia o contato. Pedi para ele não me procurar, mas ele me procurava e eu respondia. Quando não respondi, ele procurou minha mãe. Depois de descobrir sobre o relacionamento extra-conjugal dele tentamos voltar. Quando descobri que eu não podia lidar com mais nada daquilo, me impus a primeira experiência do contato zero.
E foi terrível. Lembro de chorar o tempo todo. Não ficava mais de meia hora sem derrubar algumas lágrimas. Também contabilizava as horas. Em 13 anos, nunca fiquei mais de 12 horas sem falar com ele, nunca fiquei um dia, dois...isso vinha a cada segundo na minha cabeça. Lembro de uma colega me questionar, ao ouvir os meus lamúrios de em 13 anos é o primeiro dia que não falei com ele, mas vc tá viva não tá? Sim estava, mas juro, cheguei achar que morrer seria bem mais fácil.
No quinto dia mandei uma mensagem, e apenas no sexto ele respondeu. Aquele foi certamente o pior dia de todo esse processo. Andei a noite toda soluçando pelo apartamento. Tomei vários remédios e nenhum me fazia dormir. Andava porque queria me sentir exausta, e conseguir dormir, mas não conseguia (as lágrimas voltam agora aos meus olhos lembrando o quanto sofri. Sim, eu sinto dó daquela menina que eu era naquele momento). Liguei para uma amiga que estava na Itália. Com 5 horas de fuso a nossa frente ela era a única que podia me ouvir. Foi no dia seguinte que meus pais me fizeram ir para a casa deles.
Era um sábado. No domingo dia das mães ele me ligou e me disse palavras muito duras, muito. Na segunda, após descobrir mais uma promessa que se desfez, eu chorei e saí feito louca do metro em uma estação que até hoje não me lembro qual é. Chorava tanto, tanto, que me faltava o ar.
Liguei para ele e disse que era a última vez que falaria comigo, ele insistia para falarmos depois, mas eu estava decidida, era a última. Quando meu pai foi me buscar contei a ele toda a verdade que não havia contado até então. Ele veio de mãos dadas comigo no carro e disse que passaríamos por aquilo juntos. Chegou em casa e ligou para o meu, até então, marido. Ele foi no quintal para eu não ouvir a conversa, mas ouvi trechos. E de forma educada, atendendo meu pedido de "não briga com ele", ouvi ele dizer que ele tinha sido um covarde, que havia entrado em nossa casa pela porta da frente e estava saindo pela de trás, negou as afirmações do meu ex que se dizia envergonhado e disse: "você não procura mais a Tabata, se ela quiser ela te procura".
E assim foi. Bloqueei ele em tudo. Comecei pelo whats, ele mandou umas mensagens via SMS a respeitos dos bens. Respondi apenas que isso ele trataria com o advogado e descobri como bloqueá-lo de todo o telefone. Instagram e face tbm cortei totalmente. Até do Linkedin eu tirei.
Um dia antes de assinarmos os papeis, ele me mandou um e-mail pedindo que eu o desbloqueasse no whats. Fiz isso no fim do dia, e conversamos por umas 2 horas. Foi uma delícia, mas foi dolorido.
Percebi depois que aquilo tinha me feito muito mal. Eu dizia a ele coisas que eu nem queria dizer. Me senti uma usuária de drogas sabe? Na hora é bom, mas aquilo te transforma. E depois, por mais que você perceba que aquilo te fez mal, você quer de novo. Enfim, contrariando os pedidos dele, o bloqueei de novo. Nove dias depois, descobri que naquele dia ele me contou mais uma mentira e aí eu bloquei a única coisa que ainda dava a ele acesso a vida linda que tivemos: um instagram feito para nosso cachorro caçula.
Nada disso foi fácil. E eu estaria mentindo se negasse que penso nele todos os dias. Até hoje não teve um dia que não pensei muito nele, em como ele está, mas sei que ficar sem contato é extremamente necessário para garantir minha sanidade, para que eu tenha conseguido aceitar a separação e para que eu conseguisse descobrir o que eu realmente quero e quem realmente sou.
É claro que quando não se tem filhos é muito mais fácil, mas mesmo com os pequenos, manter essa distância não é impossível.
A Ângela que participa do grupo do nosso canal no facebook, relatou lá que ela deixa os meninos prontos, o pai pegava e vice-versa. Tudo sem falar com o ex. Sabemos que em alguns momentos é inevitável, mas continuo defendendo que se você parar de stalkear as redes sociais, parar de buscar informações sobre o que ele está fazendo, e evitar as DRs pós divórcio, tudo vai ficar mais fácil.
Fiz uma pequena entrevista com a Ângela, vejam o relato dela:
"Eu decidi ter contato zero com ex ,pra evitar que sofresse mais ainda. Fiz bloqueio do facebook e não tenho contato dele salvo no whatsapp. Quando preciso falar com ele envio mensagem, mas apenas sobre assuntos referente aos meninos, como a pensão, escola e aniversário. O casamento terminou, por causa de uma traição. Estávamos com dificuldade no relacionamento, quando decidi mudar, lutar pela nossa família e aí recebi um mensagem inbox sobre a traição. Pra mim foi o fim. Não perdoo traição. Meu desespero foi tanto, que mandei mensagem para a amante, ela disse que não tinha culpa de nada, que ele tinha feito a escolha dele. Chorei muito, mas tive forças , fui atrás do divórcio, com meu coração em pedaços. Desde então, estou assim seguindo o baile...me conformei, foi melhor assim. Mas por enquanto, não quero contato com ele. Cada dia mais , ele está distante dos meus olhos e do meu coração."
Espero que o meu relato e o da Ângela possa ajudar você, talvez o que os olhos não vejam (os ouvidos não escutem, e a pele não toque), o coração realmente não sinta. Vale a pena tentar!

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