NUNCA julgue. NUNCA!
- Tabata Pitol
- 22 de jan. de 2018
- 3 min de leitura
Aos 14 anos saí correndo da minha festa de formatura. O ginásio tinha acabado, meu vestido era lindo, meus parentes estavam lá, mas meu estômago revirava. E eu, apavorada com medo de vomitar, não conseguia me controlar. Fui embora antes da primeira música, para tristeza dos meus pais.
Durante anos, o pavor de vomitar me perseguiu. E junto com ele vinham as crises de pânico. Na verdade não sei se eu me sentia mal do estômago e tinha as crises de pânico ou se durante as crises de pânico meu estômago revirava e eu sentia que ia vomitar. E isso me apavorava.

Sim, eu vomitei metade de todo esse leite!
Foram anos de terapia. Muitos ouviram da minha boca as palavras: prefiro morrer a vomitar. Era real. E como era imbecil, eu sei. Porque alguém tem medo de algo natural do corpo? Ok, não é algo rotineiro, não é gostoso, mas é um mecanismo de defesa do próprio organismo, não é? Mas para mim era muito ruim, muito. Muito.
Não sei ao certo explicar. Parece que tem uma grande relação com minha primeira infância. Uma garotinha faminta que nasceu com uma válvula aberta no estômago e por isso vomitava muito. Com os vômitos, pouca comida parava no meu estômago e eu sentia fome. Para um bebê, sentir fome é como estar se desmanchando e parece que meu cérebro associou uma coisa com a outra e algum gatilho desencadeou esse medo. Foi o que descobri em uns 5 anos de terapia.
Ainda bebê, para resolver o problema da fome, precisei de um leite mais pesado até a válvula fechar. Na vida adulta (depois dos 30) o pavor passou, não prefiro mais morrer, mas também não me sinto confortável em tal situação.
E porque esse assunto nojentinho agora Tabata? Porque com esse meu medo considerado idiota para muitos, mas extremamente significativo para mim, eu aprendi a não julgar, jamais, o que afeta o outro.
É simples: se uma coisa tão besta, para mim era tão péssimo, quem sou eu para julgar os medos e as dores do outro?
Quem sou eu para dizer que a dor dele não dói? Que o motivo dele não é importante? Que está fazendo tempestade em copo d`água? A senhora medo de vomitar?
Por isso esse texto traz um apelo: vamos parar de medir o tamanho de nossa dor ? Vamos parar de usar "a minha história foi pior", "em mim dói mais", vamos? Acredite em mim: nós NUNCA poderemos mensurar o quanto algo machuca o outro.
Vamos então tentar ser sempre gentis, porque a real é que nunca sabemos pelo que o outro está passando. E vamos respeitar, porque você nunca vai saber o quanto o outro tá sofrendo.
Desde que o canal começou eu me impus uma condição: jamais expor meu ex-marido. Talvez vocês tenham reparado, mas vocês não sabem nada dele (tirando quem nos conhecia, óbvio). Quando me convidaram para a Fátima Bernardes foi a primeira coisa que eu disse: não quero falar o nome dele e nem o que ele faz. O que eu falo é sempre como EU me senti, como ME afetou, como EU lidei com a coisa e, claro, alguns fatos de como as coisas aconteceram COMIGO. Sabe porque? Porque embora tenha me doído muito, também doeu nele. E eu não sei quanto doeu, mas sei que doeu.
Foram escolhas dele, foram. Mas errar é humano e todos erram. E nesse grande momento de dor eu também fui vítima da frase: para mim é pior.
Mas no fundo mesmo esse texto é só para pensarmos antes de acusarmos, antes de nos colocarmos como a maior vítima, antes de diminuirmos a dor do outro.
Uma das minhas bandeiras com o canal é que a dor de amor não é mimimi. Dói, muito. E se para você não dói, que ótimo. Mas não venha julgar quem está sofrendo por ter tido o coração partido. Se colocar no lugar do outro é uma das grandes qualidades do ser humano. E você é um dessa espécie não é?
Vamos praticar mais isso?

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