O som da sua voz
- Tabata Pitol
- 19 de fev. de 2018
- 2 min de leitura
Foi há mais ou menos 14 anos. Aqueles pequenos gravadores eram ferramenta fundamental para qualquer jornalista. Tínhamos um com a logo da empresa que trabalhávamos e ali gravamos algumas conversas. Tenho a fita guardada até hoje (junto com a paçoca Amor que ganhei. Alguém devia analisar a composição desse doce. Como pode durar tanto tempo assim?) Ouvia sua voz a noite, antes de dormir. Você ainda não era meu namorado, e era o meu jeito de me sentir mais próxima a você.
Tempos depois, foi no gravador em que eu ouvia música, na Ipanema Wave do meu pai, que gravamos nossas vozes. Você vivia zombando de mim por causa daquele gravador - e daquele carro -, mas se divertia em ambos. As fitas também estão guardadas.

Gravei tudo. O início da sua carreira, suas conquistas, uma a uma.
Mesmo quando sua voz estava ali, dia após dia, me dando bom dia e me dando boa noite, eu te gravava. Talvez imaginasse que ela não estaria lá por muito tempo, ao contrário do que você me fazia acreditar.
Descobri tudo guardadinho em uma mala no meu closet. Fitas K7, fitas VHS, DVDs. Tudo lá. Ainda não decidi o que fazer com isso.
No celular, infelizmente, tudo se foi. Quando ele caiu na piscina, perdi todos os audios. Os que você dizia que me amava. Que me amaria para sempre. Que tinha certeza disso. Perdi também o que você me avisava, aos prantos, que estava saindo de casa. Perdi os pedidos de perdão, os momentos confusos e o fim da nossa história.
Ironicamente eu poderia ter acesso a tua voz se assim quisesse. Várias vezes por dia talvez. Mas sabe, não é mais a voz do meu marido. Ironicamente, quando milhares de pessoas passaram a conhecer a sua voz, foi quando eu parei de a reconhecer.
Acabei de assistir um filme em que um grande sonhador, conquistou tudo que quis, tendo sempre sua família como apoio. A vida imita a arte, porque quando ele chegou lá, a família que ele tanto amou, e que tanto o amou, já não era suficiente.
No fim do filme ele volta, e sua esposa e duas filhas o perdoam. Esse não é o fim que desejo para a minha história. No entanto, não encontrar o garoto que tanto amei ao alcance do play do meu celular me dói de uma maneira que não sei explicar. O mais engraçado é que em todos esses meses, nunca quis apertar o play. Alguém então consegue me explicar porque me machuca saber que não está mais lá ?

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