Sobre avós, tios, ex e felicidade
- Tabata Pitol
- 19 de mar. de 2018
- 3 min de leitura
Tava eu aqui assistindo uma entrevista do Flávio Gikovate onde ele diz que as mulheres ficam bem melhores sozinhas do que os homens .
De repente lembrei da minha avó, do meu avô, de dois tios meus e do meu ex.

Minha vó, já do alto dos seus 82 anos, ficou viúva há mais de 25 anos, se não me engano. Eu era pequena, tinha perto dos 12, mas nunca foi difícil perceber que meu avô, então marido dela, mais atrapalhou sua vida do que ajudou. Não sei se atrapalhar é a palavra correta. Mas mesmo sendo criança eu percebia que as coisas entre eles não era leve.
Lembro de uma vez ela me contar em quem votaria, mas me pedir: não diga ao seu avô, ele quer que eu vote em outra pessoa. Ok, minha avó casou aos 17 anos com ele, teve 4 filhos, e talvez eu pudesse ter apenas pensado: as coisas eram assim. E eram mesmo. Mas também lembro de quando minha avó ficou viúva. Não tenho noção de quanto tempo se passou, mas sei que comecei a ver minha avó rir mais, vendendo seus avons, passeando para visitar amigas, viajando para ver a irmã.
Nem preciso dizer que ela não fazia nada disso enquanto ele era vivo, né? Eu poderia até ter pensado: ah, tudo bem, ela preenchia o tempo dela com ele e agora está preenchendo de outras formas. Mas quando perguntei: vó, porque você não arranja um namorado, foi que entendi que ela estava muito melhor sem um cara na vida dela.
Já com meu avô e meus tios a coisa foi bem diferente. Meu vô ficou viúvo e, se não me falha a memória, morreu menos de um ano depois. Sempre ouvi: eles não aguentam ficar sem elas. Com meus tios, que ficaram viúvos um pouco mais jovem que meu vô, não deu outra: em pouco tempo, um ano ou dois, ambos tinham uma namorada.
Quanto ao ex, não preciso repetir a história. Apenas o que ouvi inúmeras vezes: homem só sai de casa quando já tem outra. Talvez haja mesmo sabedoria no que chamamos de sabedoria popular.
Quanto a mim, namorei desde os 14 anos…5 anos com o primeiro, 3 com o segundo. Mais 3 anos com um peguete, até que conheci o ex-marido e aí foram mais 12 anos. Ou seja, sempre tive um homem na minha vida, romanticamente falando. Muitas coisas da minha vida são lembradas pelo cara que estava comigo na época. A primeira vez que fui para Ubatuba namorava o xxx, já a primeira viagem internacional foi na época do xxx.
Não vou aqui desdenhar, nem cuspir no prato que comi. Mas tenho que dizer que a vida tem me mostrado o que o Gikovate afirma em sua entrevista, e o que, lá no fundo eu já sabia: mulheres são sim capazes de serem felizes sozinhas. Não digo sozinhas, isoladas, ermitãs. Mas sem um par romântico.
E vou além: ser feliz sem um cara não significa uma felicidade menos feliz.
Como já contei eu vivi num conto de fadas por 12 anos. Mas contos de fadas também dão dor nas costas, nos impõe obrigações, cansaços, abrir mão do que gostamos, tudo por uma vida plena e feliz.
Agora que o princípe virou sapo - e que a depressão já deu seu adeus, deixando apenas uma tristezinha pontual - vivo uma felicidade diferente. Esses dias chamei ela de paz, mas também chamo de leveza. É como se eu dançasse pela vida.
Atualmente me permito fazer tudo que quero, e me permito não fazer tudo que não quero. Sinto prazer viajando, vendo um filme no meu quarto, beijando um desconhecido no Carnaval. Me permito uma massagem relaxante no SPA, um novo corte de cabelo, um almoço em um restaurante legal...nem melhor, nem pior, apenas diferente. E sozinha, mas sem me sentir solitária.

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