Do mimimi à agressão: o que é prejudicial no seu relacionamento?
- Rita Santander
- 11 de abr. de 2018
- 3 min de leitura
Estava navegando nessa internet-sem-fim-de-meu-Deus outro dia e me deparei com um termo que nunca tinha ouvido: microaggressions.
A palavra, normalmente usada para descrever as pequenas e sutis formas ofensas ligadas à raça, gênero ou condição social já tem tradução em português e especialistas divididos entre o time que considera as micro-agressões prejudiciais para a autoestima enquanto outros, acham puro mimimi.
Em um dos artigos que li, uma pesquisadora norte-americana, descendente oriental, relata que costuma ouvir das pessoas "mas o seu inglês é ótimo. Nem tem sotaque". "Isso faz com que eu me sinta uma estrangeira dentro do meu próprio país", explica e completa: "as micro-agressões normalmente são lançadas como uma forma de elogio, mas causam uma reação emotiva que são uma espécie de gatilho e retomam a primeira vez que nos sentimos mal por aquilo."

Há quem diga que preocupar-se com isso é pura paranoia. "Vivemos na era do politicamente correto, da revolução das vítimas, da marcha das minorias oprimidas. Nunca antes os fracos tiveram tanto poder! Uma turma hipersensível, cheia de preconceitos, precisa criar uma barreira artificial para proteger todos do preconceito alheio, do bullying, das agressões, das micro-agressões", pontua Rodrigo Constantino na sua coluna da Gazeta do Povo.
Independente de haver uma expressão para justificar o ato ou as pessoas a acharem exagerada ou não, fato é que as palavras têm muito poder e a forma que nos são ditas podem minar lentamente nossa autoestima e interferir na forma como enxergamos a nós mesmos.
"Você é muito atrapalhada. Melhor não ter uma moto, porque me preocupo com a sua segurança."
Essa foi uma frase que ouvi muito durante o meu casamento e me fez, por anos, acreditar que eu não seria mesmo capaz de guiar uma moto pelo caos de São Paulo, o que facilitaria meu transporte e entregas de produtos que fiz, ao londos dos mesmos anos, de transporte público.
O carro do casal ficava inteiramente à disposição do meu ex marido, uma vez que atendia a chamados profissionais sem aviso prévio durante a semana. Quando me dei conta que uma moto seria uma solução rápida e pouco dispendiosa para a minha locomoção, meu então companheiro não a vetou (logico, isso não cabia a ele), mas minou minha confiança de que eu seria capaz de sobreviver me transportando em duas rodas.
Como consequência, além de não ter minha rotina facilitada por um transporte mais ágil, ainda me convenci de que tinha medo desse tipo de veículo, como uma forma de justificar o não uso daquele meio de transporte.
Com um pouco mais de amor-próprio eu teria mandado às favas a falsa-preocupação dele e feito o que queria com os recursos que bem entendesse. Mas, naquele momento, o sabichão conseguiu tirar de mim um objetivo importante para minha vida.
Foi relativamente fácil para ele me fazer desistir daquela ideia, pontuando minhas próprias falhas (você é atrapalhada). Isso porquê eu não estava fortalecida o suficiente para filtrar que aquela agressão à minha autoestima vinha justamente daquele que deveria ser o maior incentivador dos meus objetivos.
Por outro lado, admito, eu mesma devo ter faltado com o apoio que ele precisava em algumas situações, e o convenci de que ele não deveria ter uma tatuagem, porque o estilo dele era muito arrumadinho para aquilo.
São sutis, são despretensiosas, parecem inofensivas, mas estão erradas essas formas de preocupação. Hoje eu vejo e sei que não é mimimi quando me ofendia ao ouvir do meu ex-marido que ele me achava atrapalhada ou dizia que eu falava muito alto.
Como exercício, observe no seu convívio as frases ditas que estão causando emoções negativas. Algo que te angustie ou te faça duvidar de si mesmo. Olhe ao redor e entenda que você não precisa levar em consideração todas as coisas que te dizem. Resumindo: EMPODERE-SE e faça valer sua voz quando alguém quiser te mostrar que você não pode.
Não deixe que ninguém diga que seu querer é mimimi.

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